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Uns Agonizam… Outros Fazem a Festa: Crónica de Uma Europa em Suspenso Aconteceu em Braga. Um grupo de jovens — oito, embora o número seja irrelevante — decidiu alugar uma casa para uma festinha privada. Até aqui, nada de novo. Jovens a querer celebrar, descontrair, viver momentos de evasão. Mas o entusiasmo foi tal que os vizinhos, incomodados pelo barulho, acabaram por chamar a polícia. A juventude, que talvez quisesse apenas beber uns shots e fumar uns charros em paz, viu-se subitamente confrontada com a realidade: multas. E bem aplicadas. Se foram 100 euros, deviam ter sido 1.000; se foram 200, deviam ter sido 2.000. Não por excesso de zelo ou prazer em castigar, mas porque há momentos em que a irresponsabilidade custa caro. Custou — e devia custar mais — porque enquanto uns fazem a festa, outros vivem em luto, suspensos entre restrições e receios, entre salários em atraso e filas para os apoios sociais. Esta pequena história é simbólica de algo maior. A pandemia revelou, como poucas vezes na história recente, a crueza das desigualdades. Uns pagam a crise com a pele, outros passam por ela quase ilesos — e alguns, poucos, saem até mais ricos do que entraram. Os bancos e as grandes instituições financeiras continuam a apresentar lucros chorudos, trimestre após trimestre. Lucros sem grandes negócios visíveis, pelo menos para o comum dos mortais. Lucros que surgem em conferências de imprensa cheias de eufemismos e gráficos bem desenhados. É a vitória do capital sobre o real. E o real é isto: famílias endividadas, pequenas empresas a fechar portas, profissionais de saúde exaustos, professores sobrecarregados, jovens sem futuro. A economia paralisa, o desemprego cresce, a inflação aperta — mas os números dos lucros não mentem. Continuam a subir. É o milagre do sistema financeiro, onde se ganha mesmo quando todos perdem. Entretanto, a Europa cambaleia entre pacotes de milhões e discursos de unidade que já pouco convencem. A tal união europeia, que há décadas se pretende pilar de progresso e solidariedade, parece cada vez mais um edifício burocrático, lento, permeável à influência dos interesses económicos e incapaz de responder com eficácia às crises sociais e políticas que se multiplicam. Distribuem-se milhões com pompa e circunstância, mas a quem chegam verdadeiramente? Os apoios anunciados são invariavelmente absorvidos pelos grandes grupos, pelas empresas com estrutura e capacidade para os captar — e não pelos que mais precisam. O cidadão comum vê as promessas passar na televisão, mas no bolso sente apenas a ausência. A esperança esvai-se. E a confiança no sistema político europeu esfria. A justiça social tornou-se uma miragem e a meritocracia uma anedota de mau gosto. Mesmo os poucos momentos em que a lei funciona — quando a Europol apanha algum criminoso de colarinho branco ou desmantela redes organizadas — parecem actos isolados num mar de impunidade institucionalizada. Longe de Braga, e ainda mais longe desta Europa em agonia, há quem esfregue as mãos de contente. O crescimento da produção industrial em certas potências, como a China, continua imparável. Um crescimento possível porque se criaram necessidades artificiais no mercado global, estimuladas pelo consumo desenfreado e pela fragilidade das economias ocidentais. Aumenta o PIB, aumenta a influência internacional. Um equilíbrio instável em que poucos ganham e muitos ficam para trás. Pelo mundo fora, multiplicam-se as festas. Uns porque se cansaram de esperar. Outros porque nunca tiveram de esperar. Enquanto isso, a ansiedade alastra. Entre teorias da conspiração, vacinas que parecem milagres suspensos, e promessas políticas que não passam disso mesmo, cresce o sentimento de desamparo. A América mudou de presidente — mas para muitos, tudo continua na mesma. O estilo muda, a retórica suaviza, mas o sistema mantém-se. Um sistema que perpetua o fosso entre ricos e pobres, entre países centrais e periféricos, entre quem dita as regras e quem vive de as cumprir. Por cá, espera-se por uma Europa que tarda em proteger os seus cidadãos. Que fala de solidariedade, mas pratica o cálculo político. Que invoca a coesão, mas alimenta a desigualdade. Os tais milhões que se anunciam com entusiasmo, acabam invariavelmente por beneficiar os mesmos. E os outros, os que esperam e sofrem, continuam a ouvir promessas vazias. É fácil julgar os jovens de Braga. É mais difícil perguntar o que os levou até ali. O que significa, hoje, ser jovem num país que pouco oferece além de precariedade, frustração e futuro adiado? Sim, houve irresponsabilidade. Mas também há um grito silencioso por liberdade, por normalidade, por um tempo que lhes está a ser roubado. A culpa não é só deles. É de todos nós. De quem tolera a indiferença. De quem assiste em silêncio ao empobrecimento moral e económico de uma geração. De quem aceita, sem questionar, que uns façam a festa enquanto outros agonizam. Vivemos num tempo em que a festa é privilégio. Em que o respeito pelas regras se transforma numa espécie de fardo, e o desrespeito numa afirmação de força. Em que a justiça parece aleatória, e o mérito, irrelevante. Se queremos recuperar mais do que a economia — se queremos recuperar a dignidade — então precisamos de mais do que coimas em Braga e pacotes financeiros em Bruxelas. Precisamos de justiça real, de responsabilidade partilhada, de uma Europa que esteja à altura da sua promessa. Até lá, continuaremos neste teatro de contradições. Uns agonizam… outros fazem a festa. E nós, pelo meio, à espera de algo melhor.
carlos lopes, editor
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