Impossível Fazer Alguém Feliz Quando Não Se É Feliz
Esta é a grande verdade.
E talvez não fosse preciso escrever mais nada.
Assunto encerrado.
Mas a verdade, por mais simples que pareça, merece ser desdobrada, refletida, compreendida em camadas.
Porque falar de felicidade é falar de responsabilidade.
É tocar em algo frágil e valioso ao mesmo tempo.
É mexer com sonhos, expectativas, ilusões — nossas e dos outros.
Impossível fazer alguém feliz quando não se é feliz.
Essa frase encerra uma sabedoria crua, direta.
Mas também pode ser um ponto de partida:
e se, ao tentar fazer alguém feliz, estivermos a acender em nós próprios a vontade de o ser também?
Partilhar felicidade é, em parte, propor-se a recebê-la.
Quando dizemos a nós próprios:
"Quero ser feliz. Vou transmitir ao mundo que sou feliz."
…estamos, no fundo, a plantar essa intenção na realidade.
A criar espaço para que a felicidade entre —
seja ela plena ou apenas fragmentos.
Mas aqui há um ponto essencial:
tem de ser verdadeiro.
Tem de haver honestidade.
Porque uma felicidade forçada, fabricada, encenada…
é um beco sem saída.
É um sorriso que esconde uma dor.
É um palco sem público.
A felicidade falsa é uma armadilha.
Uma fuga.
Um show que, mais cedo ou mais tarde, cai por terra.
Porque ninguém consegue sustentar uma mentira emocional por muito tempo.
Assumir a felicidade é, por si só, uma enorme responsabilidade.
Porque a partir do momento em que dizes que és feliz,
o mundo olha-te de outra forma.
E tu passas a ser espelho, inspiração, exemplo.
Colocar-se no centro de uma áurea de felicidade,
onde tudo gira à nossa volta —
os amigos, os afetos, os projetos, as conquistas —
pode parecer um caminho possível.
Mas cuidado:
se essa felicidade não for real,
não for alicerçada em algo interno e sólido,
a máscara cairá.
E o impacto será maior do que se nunca tivesses dito nada.
Prometer felicidade aos outros sem a sentir em ti… é um erro profundo.
E porquê?
Porque ninguém pode dar o que não tem.
A honestidade connosco próprios é fundamental.
É o ponto de partida de qualquer relação verdadeira — com o outro e contigo.
Sacrificar-te por uma promessa que sabes ser miragem tem um preço.
E o preço é alto: desgaste, frustração, vazio, culpa.
Não se pode amar verdadeiramente, nem fazer feliz ninguém,
com o coração em pedaços e a alma esgotada.
Alguns, perante essa impossibilidade, procuram desculpas:
"Quero ser livre e feliz, mas eles não me deixam."
"Gostaria, mas não sei como."
E sim, são desculpas compreensíveis.
Mas desculpas, no fundo, são formas de evitar o confronto com a verdade interior.
A felicidade não está à venda.
Não se compra.
Não se exige.
Constrói-se. Escolhe-se. Cuida-se.
E se queremos, verdadeiramente, fazer alguém feliz,
temos de contribuir com tudo o que temos:
com verdade, com presença, com integridade.
E, sobretudo, com a nossa própria felicidade sincera.
Não se pode viver fingindo plenitude.
Porque as emoções verdadeiras escapam sempre por algum lado:
pelos olhos, pelo corpo, pelas ausências.
Podemos esconder-nos atrás de casulos e argumentos,
construir discursos belíssimos sobre liberdade,
usar palavras certas nos momentos certos…
mas é impossível esconder a infelicidade nos gestos.
Ela revela-se:
-
Na falta de entusiasmo.
-
Na frieza disfarçada de calma.
-
Na ausência de brilho nos olhos.
-
No toque vazio.
-
Na impaciência com o outro.
A felicidade não é um estado permanente,
nem uma linha reta.
É uma construção diária, cheia de altos e baixos,
mas que precisa, no mínimo, de um ponto de partida sincero.
Queres fazer alguém feliz?
Primeiro, pergunta-te:
Sou feliz?
Não uma felicidade eufórica, de redes sociais e frases feitas.
Mas uma felicidade tranquila, serena.
Aquela que sabe o que tem, o que perdeu e ainda assim escolhe agradecer.
Aquela que não depende do outro para existir.
Só assim, com verdade, é possível dar algo real a alguém.
Porque a maior felicidade que se pode oferecer…
é a de ser inteiro ao lado de alguém.
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