
A DIETA COMO RELIGIÃO MODERNA Como o ato de comer substituiu o altar — e o corpo se tornou a nova teologia do século XXI.
O FIM DOS DEUSES, O INÍCIO DAS REFEIÇÕES Durante séculos, a religião ditava o que se podia comer: jejuns, tabus, purificações. Hoje, os mandamentos vêm de outras fontes — rótulos, influencers e nutricionistas. O sagrado deslocou-se: da alma para o intestino. A modernidade fragmentou a fé, mas não o desejo de salvação. Agora, a redenção promete-se em smoothies verdes, jejuns intermitentes e dietas puras. A mesa tornou-se altar, e o corpo — templo absoluto.
DO PECADO À INTOXICAÇÃO A linguagem mudou, mas o sentimento é o mesmo. Antes havia pecado e culpa; agora fala-se em toxinas e inflamação. A penitência faz-se em ginásios, detox e suplementos. A ideia de “corpo limpo” continua a ecoar a velha busca pela pureza espiritual. O ascetismo medieval renasce em forma de minimalismo alimentar e jejum consciente.
GURUS, DIETAS E CRENÇAS O mundo contemporâneo multiplica profetas de cozinha. Cada um prega uma revelação: cetogénica, paleolítica, vegana, carnívora, crudívora. Cada doutrina tem textos sagrados, mártires e hereges. E, como nas religiões antigas, há promessa de salvação: longevidade, energia, serenidade. O nutricionista moderno é o novo confessor. O supermercado, o novo templo.
A PROMESSA DE CONTROLE O que move a fé alimentar é o mesmo impulso que moveu Graham, Ellen White e Kellogg: o medo do descontrolo. Num mundo de estímulos constantes, comer é o último ato sobre o qual se pode decidir. A dieta dá sensação de domínio — sobre o corpo e o destino. A restrição transforma-se em virtude. O prazer, em suspeita. O corpo, em prova moral.
ENTRE A CIÊNCIA E A MÍSTICA A ciência tenta explicar o metabolismo; o mercado, aproveitá-lo. Mas a devoção permanece. Dietas falam de energia, harmonia, equilíbrio, limpeza — conceitos mais espirituais do que nutricionais. O discurso da saúde confunde-se com o da salvação. E o corpo, medido e monitorizado, converte-se em santuário digital.
O NOVO CULTO DA SAÚDE Smartwatches, suplementos, probióticos, iogurtes funcionais — tudo promete prolongar a vida, eliminar o mal, garantir felicidade. A religião moderna já não fala de céu ou inferno, mas de longevidade e performance. As virtudes antigas — temperança, pureza, disciplina — regressam travestidas de “wellness.” A fé mudou de nome, não de função. O corpo é o último dogma.
REFLEXÃO FINAL: ENTRE A MESA E O ALTAR A história começou com pregadores e profetas, passou por sanatórios e fábricas, e desembocou em redes sociais e supermercados. Hoje, comer é um ato teológico sem Deus. Cada garfada carrega culpa, promessa, medo e esperança. O cardápio é confissão, o rótulo é escritura. No fim, talvez reste uma lição: todas as dietas são, no fundo, formas de fé. E o verdadeiro milagre ainda é o mesmo — comer com consciência, partilhar com alegria e viver com medida. by myfoodstreet 2025

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