A IDADE MEDIA O Vinho na Idade Média Na Idade Média, o vinho ocupava um lugar central na vida quotidiana e espiritual das populações europeias, especialmente na Península Ibérica. Em Portugal, tal como noutros territórios cristãos, o vinho era muito mais do que uma simples bebida: era um elemento essencial da dieta, um bem de comércio e um símbolo litúrgico profundamente enraizado na cultura e religião da época. Durante este período, a produção de vinho era controlada pelos mosteiros e ordens religiosas, que detinham vastas extensões de terra e o conhecimento necessário para cultivar a vinha e produzir vinho de qualidade. Os monges não só preservaram como também aperfeiçoaram técnicas de viticultura e vinificação herdadas dos romanos, garantindo a continuidade desta tradição milenar. O vinho era utilizado nas missas, o que incentivava a sua produção constante, mesmo em tempos de instabilidade. A viticultura medieval estava sujeita a várias limitações técnicas e climáticas, mas era adaptada às condições locais. As vinhas eram frequentemente plantadas em encostas e terrenos pobres, aproveitando ao máximo a exposição solar e a drenagem natural. As castas eram selecionadas com base na sua resistência e produtividade, embora a diversidade fosse grande. As técnicas de fermentação e armazenamento eram rudimentares comparadas com os padrões modernos, mas eficazes para a conservação do produto ao longo do tempo. O vinho também desempenhava um papel importante na economia medieval. Em muitas regiões, servia como moeda de troca, tributo ou forma de pagamento de rendas feudais. A sua comercialização, tanto em feiras locais como através de rotas de comércio marítimo e terrestre, contribuiu para o desenvolvimento económico de várias localidades. Em Portugal, cidades como Porto e Lisboa começaram a ganhar relevância como centros de produção e exportação vinícola já no final da Idade Média. A qualidade e o consumo do vinho variavam consoante a classe social. Enquanto os nobres e o clero tinham acesso a vinhos mais elaborados e envelhecidos, os camponeses e classes populares consumiam vinhos mais simples, frequentemente misturados com água. Apesar disso, o vinho era uma alternativa segura à água, muitas vezes contaminada, o que explica o seu consumo generalizado. Com o declínio do Império Romano, desapareceu também o costume de armazenar o vinho durante longos períodos de tempo. A viticultura foi deixada um pouco de lado, até que os mosteiros medievais e monges empenhados recuperaram e desenvolveram a cultura vínica. Os monges beneditinos documentavam, nessa altura, as castas, a produção de vinho e as condições do solo. Nas celebrações litúrgicas, o vinho era presença constante. Na Bíblia, existem 425 referências ao vinho e à vinha, o que demonstra a sua importância na cultura cristã. Este poder dos conventos e, indiretamente, da Igreja no desenvolvimento da cultura vínica manteve-se até ao final do século XVIII. A viticultura floresceu, e na Borgonha foi desenvolvido um sistema de classificação de vinhas, ainda hoje em vigor em algumas zonas. O comércio estava também firmemente nas mãos do clero e da política, sempre juntos. A doçaria conventual, muito à base de gemas de ovo, surgiu como resultado do desenvolvimento da vinificação nos conventos. Os monges usavam as claras de ovos para o processo de clarificação do vinho, sobrando as gemas, que eram aproveitadas pelas freiras para criar doces conventuais. A viticultura na Idade Média foi um dos pilares da economia, cultura e religião europeias.
by LeChef, myfoodstreet.ch |